A figura humana pelos olhos de Sergio Martinolli

Artista plástico mostra versatilidade em mais de duas mil obras.

ENTREVISTAS

1/21/20253 min read

Surrealismo, simbolismo, figurativismo, abstracionismo. Difícil dizer qual desses estilos mais representa o artista plástico italiano Sérgio Martinolli. Filho de um comandante da marinha, a vida inicialmente o levou para o mar ao viajar diversas vezes da Itália para Nova York com os transatlânticos do país. Mas segundo ele, seu coração sempre esteve na arte. Em 1965, largou tudo e decidiu aventurar-se em terras americanas, deixou a vida de marinheiro pra trás e passou a fazer retratos da alta sociedade nova iorquina e de personalidades da época, como Charlotte Ford. O convívio com a burguesia o levou para perto da ex-primeira dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy e do célebre pintor Salvador Dali.

Sergio Martinolli acredita que desde criança sua missão era ser pintor. Ao longo da carreira, o artista efetuou mais de 40 exposições individuais no Brasil e no exterior. Seu nome faz parte da edição do livro “Um Século de História” editado em 2004 como um dos 70 maiores artistas plásticos do Brasil. “Fui sempre atraído pela pintura. Quando eu tinha 10 anos já sabia que queria ser artista. Meu sonho era a pintura, eu fazia esboços, desenhava, ou seja, tinha a cabeça neste universo”, conta.

Com Salvador Dali, Sérgio teve um primeiro contato social, depois conheceu o ateliê do mestre do surrealismo, o que, segundo ele, marcou muito a carreira e estabeleceu uma diretriz como pintor tendo contato com a forma que Dali compunha as obras. “Era uma pessoa muito engraçada, muito louca, falava de coisas que, naquela época, eram absurdas. Ele era louquíssimo, as mulheres se escandalizavam com tudo que ele dizia”, relembra Sérgio. Após alguns anos, Martinolli mudou-se para o Brasil, onde vive até hoje. Aqui, ele também fez seu nome ao retratar famosas como Tônia Carrero, a Miss Brasil Leila Schuster e, mais recentemente, a atriz Rosa Maria Murtinho. “Alguns trabalhos se parecem com os feitos em Nova York, mas tem sempre um processo de evolução, de coisas novas”, pontua.

Membro da Academia Brasileira de Belas Artes, Martinolli fez carreira no país e carrega no currículo exposições internacionais como: Congresso Europeu Dell`Arte Fantástica, Trieste Itália, representou o Brasil com as artes plásticas na Feira de Hannover, na Alemanha. Convidado a expor no Centro Pompidou na visita do presidente Figueiredo à França, ele expôs em países como Estado Unidos e Suíça. No Brasil, são mais de 30 exposições individuais. Sobre o artista o mais famoso escritor brasileiro, Paulo Coelho, foi categórico: “Martinolli nos propõe um novo espetáculo surrealista, e nos surpreende com novos elementos e concepções(…). Certamente ele deve ter ouvido Michelangelo quando o gênio florentino reconheceu, ungido pela beleza, que a boa pintura aproxima-se de Deus e une-se a Ele”, filosofou o escritor.

O italiano que pintou mais de dois mil quadros têm ainda obras sacras na Capela Nossa Senhora Desatadora dos Nós, em Armação dos Búzios, no interior do Rio de Janeiro, e na Paróquia São Francisco de Paula, na Barra da Tijuca. Além disso, ele conta com um acervo de pinturas surrealistas e abstratas. “Fui muito influenciado pelo surrealismo, mas um surrealismo leve. Inusitado, mas sem elementos fora da realidade. Depois mudei para o figurativismo mais abstrato, em um contexto mais contemporâneo. Agora estou fazendo figurativismo dentro de uma abstração, onde as manchas são mais importantes do que a figura. Estou brincando com essas duas coisas, eu sou muito versátil. Tenho meu caminho paralelo, não sou um vanguardista, sou um pintor figurativo”, declara.

Dentre tantos estilos, a figura humana passou a ser a maior fonte de inspiração de Sérgio. Seus quadros sempre com muitas cores e movimentos mostram os olhares e os sentimentos de forma transparentes. “Tenho figuras com o tema ‘Mater’, que representam a maternidade, eu mostro sempre esse lado emotivo em minhas obras”, conta. “Sou muito ligado à figura, é a coisa que mais me atrai. A figura humana me desperta. Não posso fazer nada de abstrato se não tiver uma figura nela. Gosto da figura humana mergulhada em um contexto abstrato e contemporâneo. É como disseram uma vez, ‘Os olhos dizem coisas que as catedrais não podem dizer'