A sinfonia artística de Will Mendonça

Conhecer o artista plástico Will Mendonça é um daqueles dias memoráveis para se guardar em uma caixinha de lembranças. No caminho da badalada Praia de Geribá, em Búzios é possível antes ou depois da praia conhecer a Galeria de Arte e o artista, que em um “ambiente bucólico”, reúne entre plantas, livros e um relógio de pé ao estilo clássico, que ele afirma ter comprado no dia anterior a essa entrevista em um mercadinho de pulgas, mas, que já é sua paixão, vislumbrar o universo da arte contemporânea.

A lona estendida ao melhor estilo Circo Voador cercada de natureza abriga as pinturas feitas pelo artista plástico Will Mendonça que ganham vida extraídas da mãe terra. As obras de artes que compõem o cenário são fruto de um minucioso garimpo, revelando a paixão e talento ao melhor estilo bon vivant do nosso entrevistado. “ A vida é um processo de amor, de vida. Então a casca quando cai, ela tá verde, tá viva, ela se enrola toda nesse processo, eu a abro e quando ela está aberta, ela tá perdendo vida, as fibras estão secando, quando sinto que ela está morrendo, eu faço ela reviver com a minha arte” - descreveu o artista.

As obras de artes feitas em casca de coqueiro e palmeira imperial revelam as várias facetas que Will Mendonça expõe em suas criações. Poeta e apaixonado pelas mulheres, o artista, que escreve pelo pseudônimo “Korshid”, tem nesse lema uma fonte inesgotável de inspiração, como é possível verificar no livro dele: “A máscara por detrás das mulheres”, -“O livro é um mergulho profundo sobre a essência feminina. Já tentei pintar homens, mas não dá. Neste livro reuni 80 mulheres que pintei em cascas. Acredito que as mulheres sempre foram a parte mais forte da capacidade humana” - refletiu o escritor.

Na pintura em cascas Will revela uma sensibilidade para o que provém da natureza, associando as suas técnicas artísticas. Técnicas estas que ele diz ter aprendido somente depois dos 40 anos, após receber um diagnóstico de estresse do antigo ofício. Sobre os artistas que lhe inspiraram Will é categórico: Picasso e Modigliani “ Pintar em cascas é a minha maneira de valorizar um material descartável e transformar em uma obra de arte. O Picasso me inspira muito, pois ele aprendeu pintar com o pai. E um dia ao mostrar mais uma de suas pinturas foi surpreendido com a afirmação do pai que ele já era um pintor. Dali em diante Picasso desconstruiu toda aquela pintura clássica que ele aprendeu e caminhou para o cubismo e dentro do cubismo ele mostrava rostos maravilhosos com nuances diferentes e sempre mulheres“ concluiu.

Além da pintura em cascas, Will também pinta em Canvas, o que lhe permitiu criar uma linha

de roupas com as pinturas que faz. Will, que é fotógrafo, registra suas obras e depois passa para

os tecidos criando camisas e vestidos com as estampas das releituras das cascas,

tais como: Rita Lee, Frida Kahlo, Van Gogh e até duas cascas com trabalhos de Caravaggio.

“Quando tive a ideia de pintar na casca de coqueiro fui observando como elas caiam

com aquelas ranhuras, aquilo é muito interessante, eu amava deslizar o pincel ali, e outra coisa

é o fato delas serem tortas. Então dali eu já via um rosto com uma profundidade para um olho.

A casca me trouxe essa versatilidade de poder criar em cima de dificuldades” - filosofou.

A arte sempre acompanhou Will, desde os 13 anos já era apaixonado por violão, e até hoje tem como ídolo Chico Buarque, empolgado ele ainda cantarola um trecho da música Vou Voltar das épocas que acompanhava os festivais pelo rádio. Daquela paixão Will carregou por toda a vida essa aspiração para arte, mesmo sendo formado em administração e ter se aposentado como esse trabalho, ele que é natural de Belo Horizonte veio a Búzios pela primeira vez em 2003, onde ficou por quatro anos, em seguida, voltou a Belo Horizonte mais precisamente a cidade de São Sebastião das Águas Claras, no qual, conheceu uma filha de libanês, casou-se e montou um bistrô árabe que tinha também os espaços de galeria, antiguidades e um palco para música.

Em 2014, Will retorna a Búzios onde manteve por anos uma galeria de arte na famosa Rua das Pedras. Na carreira de músico Will formou-se em violão pela prestigiada escola Villa Lobos, onde retornou e está concluindo os aprendizados, desta vez, no saxofone. O maior sonho de Will é ensinar às crianças em condições “especiais” o poder transformador da música. - “Essa é a minha missão” - concluir Will