“Eu Sou um Monstro” mescla teatro, performance, vídeo e artes plásticas

Obra foi criada a partir de um trágico acontecimento que marcou a vida e a obra do pintor Francis Bacon com estreia 4 de setembro, no Teatro Poeirinha.

ESTREIAS

8/28/20252 min read

Fotos: Rafa Marques

Reconhecido pela sua trajetória como estilista, o multiartista Fause Haten vive em estado permanente de criação. Há 15 anos, começou a transformar sua presença na moda e iniciou uma trajetória nas artes cênicas e visuais. Com direção, texto e atuação de Haten, o solo “Eu Sou um Monstro” estreia em 4 de setembro no Teatro Poeirinha, com sessões de quinta a domingo, até 26 de outubro. Inédita no Rio, a performance encerra uma trilogia de autoria do artista, iniciada com as obras “A Feia Lulu”,2014 e “Lili Marlene – Um Anti Musical”, 2017.

“Eu Sou um Monstro” leva à cena reflexões sobre os limites, ou a falta deles, na arte, as relações dos artistas-criadores com suas personas e com a plateia, além do amor e as diversas formas de expressá-lo. Para criar a performance, Haten se inspirou em um episódio real vivido pelo artista plástico irlandês Francis Bacon, 1909 - 1992. Em 1971, na noite em que o Grand Palais de Paris homenageava Bacon com uma retrospectiva de seu trabalho, George Dyer, amante do pintor, comete suicídio. O artista e sua agente encontram o corpo de Dyer e decidem deixá-lo no mesmo lugar, para não atrapalhar o seu grande dia.

“Eu assisti a um documentário sobre a vida do Francis Bacon e tomei conhecimento desse acontecimento que me atordoou”, diz Haten. “Inspirado por esse relato, escrevi um conto ficcional. Depois, surgiu a ideia de transportar a narrativa para o teatro. Comecei a fazer leituras individuais para amigos atores e diretores. A cada leitura, fui fazendo improvisos e registrando tudo, até chegar nesta performance. É uma obra que tem esse momento na vida do Bacon como gatilho, mas é um texto que fala de todos os artistas”, completa.

Mesclando ficção e realidade, Haten se propõe a contar uma história para seu público, mas não de uma maneira convencional. Utiliza sua habilidade performática e de relação com o público para envolvê-los sem que percebam e instaurar um jogo entre a leitura despretensiosa e rompantes de expressiva atuação, misturando uma narrativa frenética a momentos de grande delicadeza, numa espécie de thriller poético.

As obras visuais apresentadas são fotos-performances que fazem parte da obra de Haten e, como ele diz, completam sua forma de criação. “A partir de uma pesquisa ou tema, palavras podem vir acompanhadas de imagens, vídeos, pinturas, esculturas e diversos gestos e desdobramentos em várias plataformas”, diz Haten. “Durante o ano em que trabalhei o texto, estava fazendo esses experimentos que chamo de “Selfiesculturas”. Algum tempo depois entendi que essas imagens eram os rostos distorcidos das obras do Bacon e representavam as obras do artista que descrevo na minha performance”, completa.

“Eu Sou um Monstro” estreou em abril de 2024 em São Paulo, no Sesc Pompeia. No mesmo ano, fez uma temporada no Teatro Vivo (São Paulo) e apresentações na Sala do Coro – Teatro Castro Alves (Salvador). Em 2025, a editora N-1 Edições publicou a obra com o texto e as imagens da performance.