Natália Fialho a decodificadora do futuro
CEO da Made In Future que conta com uma comunidade digital de 700 criativos, Natália Fialho criou o termo "anti-tendência" para ensinar como mapear o comportamento de consumo nesta nova era da comunicação.
ENTREVISTAS
8/11/20256 min read


Fotos: arquivo pessoal
Natália Fialho é uma estrategista de alto gabarito com olhar apurado para desvendar o espírito dos novos tempos. Especialista em psicologia do consumo, estilista e cool hunter, ela é a mente por trás do super requisitado estúdio cultural Made In Future, que por meio da decodificação das tendências construiu uma comunidade digital criativa, autêntica e disruptiva com mais de 700 participantes pelo aplicativo de mensagens WhastApp. Multifacetada a empresária com olhar futurista presta consultoria de consumo para as principais multinacionais. Na epopeia criativa que fomenta dia após dia, a competente cool hunter, se desdobra entre consultorias, aulas e palestras treinando os olhares dos seus pupilos para enxergar além do óbvio e transformar conhecimento em projetos tangíveis.
Com um portfólio impecável, Natália morou em Milão onde se especializou em branding pelo Istituto Europeu di Design. Em Paris, ela se formou como estilista pelo IFA especializando-se na Fashion Trend Forecaster pelo Istituto Marangoni. Posteriormente trabalhou em consultorias para marcas de moda, consolidando-se neste segmento. Pela Made In Future, a também estilista tem a missão de aprimorar o “olhar” daqueles que desejam trabalhar com moda, aplicando metodologia própria através de anos de pesquisa. Nesse contexto de desvendar a comunicação contemporânea, a CEO da Made In Future acaba de lançar um programa de implementação criativa com imersão de seis semanas, estrategicamente chamado de “Anatomia do Hype”.
Da expertise como uma nata pesquisadora, Natália Fialho criou o termo anti-tendência, no qual, ela convida a sua comunidade de criativos a pensar “fora da caixa”, transformando assim, conhecimento em inovação. Nesta nova era, que segundo ela está saturada de “trend cores”, a audaciosa proposta de Natália é direcionar marcas e pessoas para navegar por diferentes canais, chancelando o conhecimento não apenas disponível e acessível, mas, compreensível e aplicável. Desta forma, ela busca evidenciar por meio do comportamento de consumo a compreensão sobre o futuro.


Comunidade digital Made In future - encontro Rio de Janeiro
Sarau de Grã Finos: O Made In Future é uma escola de anti-tendência, que estuda o futuro. Dessa forma é mais fácil antecipar o comportamento das pessoas sem ser óbvio?
Natália Fialho: Com certeza! A gente não acredita em mapear tendências através do óbvio, o que bomba nas passarelas ou o que viraliza em redes sociais. Acreditamos na decodificação de sintomas e sinais do espírito do tempo, observando com atenção, entre poética e política, as fraturas culturais que antecipam transformações. A anti-tendência nos obriga a pensar contra a corrente, e a detectar movimentos que ainda não foram capturados pela lógica do mercado. A ideia é também subverter essa fadiga do excesso de informação e transformar essa prática de observação em algo agradável.
Sarau de Grã Finos: Qual a proposta da imersão “Anatomia Hype”, novo curso do Made In Future?
Natália Fialho: Nossa proposta é que em 6 semanas, através de muita prática, tarefas, materiais complementares, frameworks estratégicos, os participantes consigam transformar ideias em algo tangível, através da nossa metodologia própria de pesquisa de tendência. Desde seu relatório autoral até desdobramentos disso, seja, uma newsletter, conteúdos para redes sociais, campanhas, posicionamento de marca, uma nova coleção, etc. Tudo isso com o meu acompanhamento em todas as etapas de criação até a implementação! Tivemos um gostinho durante a imersão, que foi um programa de apenas 4 dias. Em pouco tempo, tivemos muita gente desenvolvendo relatórios de tendência incríveis, muitos deles melhores que de empresas grandes.
Sarau de Grã Finos: A anti-tendência é um termo próprio da comunidade Made In Future. De onde vem a criação desse conceito para mapear os insights criativos que serão copiados por todo o mundo?
Natália Fialho: Sempre gostei de trazer essas provocações para ressaltar nossos diferenciais. Antes de ser Made In Future, a marca se chamava F.I.N.D (fashion is not dumb). Essa ideia nasceu de um blog, lá de 2017, que eu usava para treinar um olhar que cruzasse moda com comportamento. Nessa época, quem falava de moda na internet, na maior parte das vezes, traziam conteúdos ostentativos e rasos sobre o vestir. Essa brincadeira do “não” ou “anti” ajuda a nos posicionar nesse mar de oferta de cursos e consultorias mais tradicionais de tendência. Desse jeito, quem compra nossa ideia já sabe que a nossa proposta é trazer conteúdos mais profundos!
Sarau de Grã Finos: Anatomia do Hype seria um "Frankenstein Fashion" ou um artista lapidando a criação? Por quê?
Natália Fialho: Talvez sejam os dois. Acho que ficou mais difícil definir o Hype hoje em dia, né? A gente não pode mais tratar ele só com um fenômeno de mercado, mas também uma manifestação contemporânea do desejo coletivo acelerado, da ansiedade performativa e da crise de pertencimento de consumo. O hype é uma criatura criada por muitas mãos, feita de colagens, viralizações, algoritmos e timings. Tem algo de Frankenstein, no sentido de ser um corpo feito de pedaços (somos vítimas e também agentes nessa construção) mas que ganha vida própria.


Comunidade digital Made In Future - encontro São Paulo
Sarau de Grã Finos: Você pode adiantar uma trend que está em voga, mas perderá força e uma outra que deverá ascender nesse semestre?
Natália Fialho: Perderá força: morango do amor rs. Assim como muitos desses fenômenos de venda que chamamos de tendências e passam por esse ciclo de vida curto. Do hype, excesso de exposição e de mercantilização até a saturação. Esse processo é parte do colapso cognitivo da sociedade digital - quando o tempo de formar vínculo é menor que o tempo de encontrar uma próxima novidade. Deverá ascender a efervescência coletiva. Acredito que é algo que vai continuar crescendo, porque a solidão e o narcisismo, consequentemente, a dificuldade de se relacionar com o outro são os principais sintomas do nosso tempo. E aí a gente vê essa contratendência para combater essa tensão. Então, é sobre terceiros espaços, sobre marcas que criam comunidades através de conexões genuínas, etc.
Sarau de Grã Finos: Qual a trend tem mais força? Labubu ou Lafufu?
Natália Fialho: Acho que ambos? O LaBubu é fruto de uma estratégia de marketing global muito bem estruturada. É provável que o personagem em si se sature, como acontece com os outros hypes, mas a Pop Mart, que está por trás, já provou que sabe operar o jogo do desejo de pertencimento. Já o Lafufu é um fenômeno muito mais nacional e afetivo. É o jeitinho brasileiro, pegar o hot dog e transformar no cachorro-quente podrão, sabe? Ele nasce do caos da internet brasileira, da irreverência do nosso humor, e cria um outro tipo de valor simbólico.
Sarau de Grã Finos: O Made in Future tem uma comunidade muito forte e original no WhatsApp. Como pesquisadora, você acha que essa comunidade é na verdade um laboratório de ideias?
Natália Fialho: Sim! Inclusive, “vendo” essa ideia para os meus clientes! Fechando qualquer estudo, tenho 700 criativos e formadores de opinião para entrevistar. Isso é puro ouro! Como a gente falou, as comunidades são essenciais pra criação de vínculos com uma marca.
Sarau de Grã Finos: Quem é a Natália Fialho?
Natália Fialho: Sou uma apaixonada por criar narrativas e contar histórias! Isso é o que me move desde criança. Por isso mesmo, me achei na pesquisa de tendência, nunca gostei de pertencer a uma caixa só! Esse meu trabalho me possibilita criar narrativas para moda, arte, comunicação, marcas, etc. Consigo transitar entre consultorias, aulas, palestras, tudo que eu mais amo, em um mesmo dia. Uma coisa muito importante pra mim nessa jornada também é construir coisas com propósito, que tenham algum impacto positivo na vida de outras pessoas.