No Dia da Poesia desejo unicamente emocionar
Joana Aleixo é jornalista, produtora cultural e estuda história da arte pela UFRJ
CRÔNICAS
3/20/20253 min read


A poesia é a arte de escrever em versos e tem o poder de modificar a realidade, segundo a percepção do artista. Essa é considerada uma das primeiras formas de arte de povos letrados, com registros da Grécia Antiga, onde era apresentada oralmente, em forma de canto, acompanhado por instrumentos musicais. Assim, a arte de rimar versos com palavras que geralmente inspiram paixões têm um Dia para ser celebrado.
O próprio Blog que vos escrevo tem no nome a vividez da poesia, Sarau de Grã Finos é a reunião do que está sendo realizado de melhor na cultura brasileira, tendo na poesia a sua principal fonte de inspiração. Afinal, o que seria da vida sem poesia e seus versos de sentido tão próprio e íntimo? Sempre que recorro a poesia, algo que faço desde muito jovem, é por procurar algum refúgio de desilusões, geralmente amorosas. A minha poesia sempre está muito inspirada nessa dor da perda. Ali mato minha sede dos sonhos e poderes desse idealizado amor romântico, que só trouxe incertezas, mas que me leva a tentar canalizá-lo de uma forma puramente poética.
Quando ainda cursava a sexta série do ensino fundamental e a professora pediu que fizéssemos uma poesia com o tema da cidade; São Pedro da Aldeia. Fiz a minha poesia e uma amiguinha também mostrou saltitante a poesia dela, por pura insegurança, troquei a minha poesia com a dela. Resumo: a minha poesia, assinada por ela, entrou no livro. E a dela que estava com meu nome não ganhou nada. Tentei ainda reverter com a professora, mas ela foi categoricamente cruel. “ Para você aprender a quando fazer o exercício, acreditar no que está fazendo”. - Choque!
E assim nunca foi premiada como poetisa, nunca foi algo que busquei. Não obstante, passei a ficar em alerta quanto ao que escrevo, sempre tentando ter um conteúdo autêntico. Já vislumbrando ser uma jornalista, lembro quando um jornalista experiente dono do primeiro jornal que trabalhei me falou: - “ Quer ser jornalista? Leia até bula de remédio”. - Conselho de Milhões!
Certa vez, ganhei um prêmio de comunicação da cidade de Cabo Frio, Fausto alguma coisa, não recordo o sobrenome, não por desdém, mas não lembro. E sinceramente não vou pesquisar. Fato é que me inscrevi com a matéria “Adeus a História”, sobre a Fazenda Campos Novos, um local que abrigava um cemitério de escravos, tombado pelo IPHAN e ainda havia recebido o célebre Darwin. Ganhei em terceiro lugar. Lembro que ainda dividi o prêmio com outro jornalista. Foi um causo!
O mais especial foi que nessa edição do Prêmio, o homenageado foi o unânime Tim Lopes e “recebi” o prêmio das mãos da irmã do jornalista, assassinado no cumprimento do seu ofício de repórter. Esse foi o verdadeiro marco. Estou escrevendo sobre isso, pois foi naqueles primeiros versos ainda na meninice que houve uma súbita vontade de ser jornalista. Uma profissão que ao meu ver é a “poesia da verdade”. Ainda sigo por aqui. Tentando viver do meu ofício.
Em uma outra época mais a frente retornei à pura poesia. Me inscrevi numa aula para fazer poemas. A professora uma “lele da cuca”, ex funcionária da Varig, que ao declamar suas poesias, chorava entre um verso e outro por lembrar dos anseios e paixões que tinha na juventude. Era de ficar boquiaberta. Eu continuei no curso por pura compaixão. Quase ninguém aguentava. Declamei ao final do curso uma poesia dela. Tive que mudar algumas palavras, pois a plateia era na sua maioria de crianças e pais e, sinceramente, eu pensava: Professora, você pensou isso? Rindo alto!
Mas a poesia tem essa vertente de intimidade. De estar confessando algo, que deveria ser apenas seu. E muita das vezes por ser simples e de uma sinceridade absurda, constrange. Acredito que quando se escreve poesia, se tem quase um sufocamento das palavras que clamam para serem expostas. Profundo, porém real.
Nesta mesma época a música entrou na minha vida e me devastou de amor. Hoje estudo versos em partituras, complexos, que tento dia após dia desvendar com meu instrumento de poesia: O violino. Amo sentar e ficar horas estudando, estudando, tentando levar a minha poesia e paixão a quem puder emocionar.
No Dia da Poesia, desejo unicamente emocionar.
O abraço no portão
Ainda me lembro
Sim, ainda me lembro
Lembro de um até logo
Que de tanta paixão
Sucumbiu no portão
Era tanta cumplicidade
Que aquela despedida singela
Era apenas praxe de uma partida
Que haveria de haver volta
Uma leve energia nostálgica, se passava
Naquelas tardes de amor
De mãos dadas ao luar
A palavra que completa a frase
O presente cheios de planos
Tudo então se perdeu no portão
Será o portão, um portal?
Ou uma janela que apenas continuo a olhar
Saudosa dos planos
De como teria sido os verões
Com certeza seriam verões de paixão
E invernos de amor
Sinceramente
Me apaixonaria no mesmo segundo
Que te olhei, mais uma vez
E reviveria tudo uma outra vez
Ou melhor, quase tudo
De novo. E de novo.