O Destino de uma Bailarina: A Ascensão de Juliana Valadão aos palcos
Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Juliana que entrou tardiamente na escola de dança, chega ao auge da carreira. Na nova montagem do Ballet de Repertório "O Corsário" com estreia no dia 14/08, ela brilhará em mais uma protagonista icônica.
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8/13/20256 min read


Fotos: Daniel Ebendinger
Juliana Valadão é uma bailarina que aflora a sensibilidade artística e determinação fruto de um árduo trabalho para excelência da técnica apurada que o ballet exige com objetivo de transpor os limites do próprio corpo. Assim, a jovem Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no auge da sua carreira, dará vida a mais uma personagem: Medora, do mundialmente conhecido ballet “O Corsário”, que estará em cartaz até dia 24/08, no Municipal do Rio.
A doçura transmitida por Juliana é sentida desde a elegância no gestual, a fala mansa e o corpo esguio, mas, não se engane com o visual delicado é notório que ela estava predestinada a ser uma grande bailarina, fato este, que contou com a chancela do Universo. Indubitavelmente! Juliana começou as aulas de ballet tardiamente aos 11 anos, ainda quando era apenas uma menina na pequena vila de pescadores em Arraial do Cabo. A filha do Seu Neilson e da D. Cláudia aproveitou cada oportunidade que a vida lhe proporcionou. Bailarina de formação da renomada Escola de Dança, Artes e Técnicas do Teatro Municipal do Rio, Maria Olenewa, que neste ano completa 80 anos, Juliana destacou-se em cada etapa da sua brilhante carreira de bailarina até chegar ao topo e ser aclamada pelo grande público. Uma estrela do nosso tempo da dança clássica brasileira.
Prestes a estrear como a Medora, uma escrava presa em um harém, protagonista que ela dividirá os dias de espetáculos com a também experiente Primeira Bailarina Márcia Jaqueline. Juliana Valadão relata como tem sido os preparativos para essa estreia e a expectativa do público. “É a primeira vez que enceno essa personagem. Este é um balé muito técnico, claro. Na história eu sou uma escrava, logo encontro o Conrad e ele fica comigo o tempo inteiro e a gente se apaixona, então, para mim está sendo muito gostoso. É uma peça muito alegre, tem aventura, tem a parte do romance. A gente fica o tempo todo tentando fugir, eu e minha amiga Gulnara. Tô curtindo muito fazer. O público vai gostar. Os cenários são lindos, roupas impecáveis e o enredo bem alegre” - garantiu a dançarina clássica.


A famosa cena do “Pas de Deux” do Ballet “O Corsário” encenada em todo mundo, Juliana, entrega que na verdade trata-se de uma dança a três e não apenas entre os dois personagens principais. “ Na verdade a gente chama de “Pas de Trois” porque é dançado pela minha personagem Medora, o Conrad e o Ali, que é o escravo dele que me protege o tempo inteiro na trama. Este é o ponto alto deste balé, sim. Eu acho que é a parte deste espetáculo que é mais dançado no mundo inteiro. É o momento! A música é a mais conhecida do Corsário sendo dançada em vários festivais, então, todo mundo conhece.” - revelou.
O ballet clássico é uma instituição secular e nas histórias encenadas nos principais Teatros do mundo a fora é comum os enredos sobre príncipes, princesas, contos de fadas e amores impossíveis. Para Juliana Valadão este tipo de história ainda tem muito a oferecer a sociedade atual, ela encara como um momento do público “escapar” dos problemas cotidianos e poder sonhar. “ É um respiro, um escape. Quando me perguntam isso, a primeira coisa que me vem à cabeça não é a Bela Adormecida, mas, sim o Lago dos Cisnes. A gente está se transformando no Cisne, o braço, o gesto milimetricamente estudado e ver a transformação no olhar das pessoas impactadas, vai além do enredo do príncipe. Aquela mulher se transforma em um Cisne, este momento transpõe o conto de fadas. E o público sente isso. Então vir aqui assistir o balé é um “escape” para sair dos problemas atuais, políticos e do dia-a-dia. Se emocionar é o que o público espera do espetáculo.” - filosofou a bailarina.
Como bailarina Juliana já deu vida a importantes protagonistas do ballet clássico, no entanto, é na tragédia romântica mais conhecida da literatura que Juliana sonha interpretar a sua grande personagem: a Julieta, do clássico Romeu e Julieta do famoso escritor britânico William Shakespeare. “ Eu sou muito romântica. E tenho essa predileção por balés mais românticos, sabe? Romeu e Julieta é meu preferido. Já dancei aqui no corpo de balé e eu sentia que amava aquela história, a personagem, mas, nunca interpretei Julieta, ainda! Lembro que acompanhava todos os ensaios sentadinha na coxia, assim, olhando tudo, suspirando, todos os dias, assistindo cada parte. Sem cansar.” - revelou empolgada.


De menina do interior à Primeira Bailarina do Municipal do Rio de Janeiro
Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor. Este é o pensamento do filósofo alemão, Johann Goethe. Juliana Valadão realmente se apaixonou pelo ballet na primeira vez que viu suas amigas de colégio praticarem a dança clássica, ainda na pacata Arraial do Cabo, porém, sem qualquer pretensão de ser uma bailarina profissional. Daquele primeiro contato com o olhar para com a dança, Juliana confidenciou ao pai sobre o desejo de fazer aulas na pequena escola de dança da cidade. O patriarca da família Valadão, que segundo ela é um apaixonado pelas mais diversas formas de artes, incentivou a filha a seguir os estudos e aos 11 anos de idade ingressou nas aulas de ballet.
Já nas primeiras performances a professora de Juliana relatou aos pais da então futura bailarina que ela tinha talento para seguir carreira. Com incentivo dos progenitores, ela intensificou os estudos até que aos 16 anos fez uma prova para entrar na Escola de Dança do Teatro Municipal Maria Olenewa e foi aprovada. A partir daquele momento, Juliana então começou a acreditar que era possível ser bailarina e sonhar alto com um lugar de destaque na dança clássica brasileira.
“ Eu comecei tarde na dança já com 11 anos no balé que tinha na minha cidade. Eu fui me apaixonando cada vez mais, mas não sabia, na verdade, que dava para viver daquilo. Eu amava a dança, mas não tinha planos. Tipo, é isso que quero fazer da minha vida, eu vou embora do país, vou dançar no Theatro Municipal. Não pensava nisso. As coisas foram acontecendo.” relembrou ela, acrescentando sobre o período que veio morar no Rio de Janeiro. “ Minha mãe era cabeleireira e meu pai funcionário de uma empresa em Arraial. Com 16 anos eu resolvi fazer a prova para entrar na Escola do Municipal, mas, na minha cabeça eu não iria passar porque as meninas fazem essa prova com oito anos de idade. Para mim era impossível, por ser considerada “velha” para a dança. Meu pai sempre me incentivou. eu tinha certeza que não iria passar, mas eu passei. Foi um choque. E agora?” - contou Juliana.


Da entrada na primeira Escola de Dança do Brasil, Juliana relembra que aprendeu a elegância e refinamento das técnicas do ballet com as bailarinas que admirava. Dos nomes de peso com quem Juliana aprendeu os movimentos profissionais estão as bailarinas: Cecília Kerche, Ana Botafogo, Claudia Motta e a Márcia Jaqueline com quem divide os dias de apresentação da protagonista Medora em “O Corsário”. Juliana aprimorou a arte do ballet com as melhores bailarinas que o Brasil já produziu na sua época e afirma que antes de ser bailarina, ela é uma artista com a principal missão de tocar o coração do público que enche as salas de teatro para assisti-la voar na ponta dos pés.
“ É muita responsabilidade. É lindo, mas é um peso enorme, não é fácil. O corpo de baile é importantíssimo, sem o corpo de baile não existe o ballet, mas são os primeiros bailarinos que contam a história do ballet para além da técnica, de entregar o que o balé exige. É importante você ser artista que é o que a gente é. E contar histórias. Nem todo mundo que vem me assistir é bailarino. Então, talvez, um errinho ali, um errinho aqui, ok tecnicamente, mas, se aquela pessoa sair daqui sem ser tocado, sem se emocionar, para mim não vale. Esse é o legado que eu quero deixar. A parte técnica é muito importante, eu trabalho diariamente para isso, porém tocar as pessoas por dentro é o mais importante. Eu trabalho para isso. Transformar as pessoas delas pensarem no ballet, pensar no que assistiu, nas sensações que ela sentiu ao nos ver dançar.” - finalizou a Primeira Bailarina do Municipal do Rio.