O Guarani: A Grande Ópera de louvor a terra de Carlos Gomes

De volta ao palco do Theatro Municipal de São Paulo a premiada ópera promete uma nova imersão na aclamada obra-prima brasileira.

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1/28/20253 min read

Crédito: Rafael Salvador/Divulgação

A Ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, abre a temporada lírica de 2025 no Theatro Municipal de São Paulo. O libreto de Antonio Scalvini e Carlo D'Ormeville retorna aos palcos paulistanos a partir do dia 15 de fevereiro em sete apresentações. Aclamada pela crítica, com direção musical Roberto Minczuk e direção cênica de Cibele Forjaz, a adaptação do romance de José Alencar de 1857, também conta com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal, do Coro Lírico Municipal e da Orquestra e Coro Guarani do Jaraguá Kyre’y Kuery. A montagem recebeu em 2023 o prestigioso prêmio da associação Ópera XXI na categoria “melhor produção de ópera latinoamericana”.

Muito reconhecida pelos brasileiros com a abertura da “A Voz do Brasil” desde 1935, O Guarani do nosso maior compositor do teatro lírico, outrora teve estreia no ano de 1870, no Teatro Scala, em Milão, na Itália, quando Carlos Gomes foi estudar na terra de Giuseppe Verdi, demostrando o signo italianíssimo dominante do mestre dramático. Em fins de 1970 a ópera, pela primeira vez, subiu à cena no Rio de Janeiro em presença do imperador D. Pedro II.

“A nova montagem representa uma continuidade do estudo de 2023. O encontro da grande ópera de Carlos Gomes com a ocupação dos guarani. A mudança do papel de Jahy Tentehar, que será a Onça Pajé, uma espécie de força própria da natureza. As características das personagens estarão mais impressas na encenação e será uma história mais bem contada. Vai ser mais bonita e profunda”, explica.

A obra-prima de Carlos Gomes exalta romanticamente a nobreza e a bravura do índio Peri, filho de um cacique guarani, que salva a idealizada heroína Cecilia, tanto das maquinações de um grupo de aventureiros, chefiado por Gonzales, como da sanha dos índios aimorés. No transcurso dos quatro atos da ópera são esplêndidos os trechos vocais de profotomia; “Sento una forza indomita”, C’era una volta un principe”. Outros trechos também despertam vivamente, o interesse do público como o Coro dos Caçadores, e a Ave Maria , o majestoso concertante O Dio degli Aymore.

"Estamos fazendo uma remontagem de O Guarani preservando Carlos Gomes e atendendo também ao apelo de Mário de Andrade a que salvemos Peri!, revelando possibilidades do libreto à luz de outras leituras da antropologia e das artes onde os indígenas despontam nesse século XXI, com disposição a tomar a palavra, sem licença ou sem temor da crase — que, como já foi dito, não foi feita para humilhar ninguém“, explica Ailton Krenak, responsável pela concepção da montagem.

Jaraguá e a luta por demarcação

A Terra Indígena Jaraguá, localizada na parte noroeste da cidade de São Paulo, é uma das terras indígenas Guarani Mbya da capital paulista, juntamente com a Terra Indígena Tenondé Porã e a Terra Indígena Krukutu, ambas localizadas em Parelheiros, na região sul. Há ainda outras aldeias e terras Guarani espalhadas pelo Estado de São Paulo.

Localizada perto do Pico do Jaraguá, a terra indígena era antes da ampliação a menor do Brasil, com 1,7 hectares. Lá residem aproximadamente 125 famílias, num total de 586 indígenas, que vivem em seis aldeias: Tekoa Ytu, Tekoa Pyau, Tekoa Itakupé, Tekoa Itaverá, Tekoa Itaendy e Tekoa Yvy Porã.

Atualmente, a ampliação da Terra Indígena para 532 hectares já foi declarada, mas ainda aguarda a homologação da Presidência da República. “Bom, a situação da demarcação avançou. Em 2024, tivemos um marco importante: a assinatura da portaria declaratória, que representa um grande passo nesse processo. É algo que esperávamos há muito tempo, pois a luta pela demarcação do Jaraguá começou há décadas. Meus avós, assim como muitos outros que participaram dessa luta, já não estão mais aqui”, explica David Vera Popygua Ju, ator que interpreta Peri Eté na ópera.

Sobre o retorno ao papel de Peri, o ator diz que foi uma experiência surpreendente e desafiadora. “Somos parte fundamental da história deste lugar. O povo Guarani merece ser homenageado, respeitado e reconhecido, tanto aqui quanto internacionalmente. Por isso, participar desse projeto foi uma oportunidade de dar visibilidade à nossa luta e à nossa cultura”, finaliza.