Por uma vida imperfeita, mas profundamente autêntica

Estar "fora do tempo" se tornou um statement de autenticidade

Joana Aleixo é jornalista, especialista em moda e mercado do luxo

9/19/20252 min read

A busca por leveza é o resgate da pressão existencial do tempo presente. Visto a grande incerteza que o futuro promete. A IA domina conversas, estudos e matérias com propósito de decodificar o que nós, humanos, estamos projetando em cima dessa tecnologia tida como revolucionária e novo marco civilizatório. Sim , nós, porque a importância da IA para o futuro da humanidade dependerá do papel que vamos patentear a essa rede neural nas nossas vidas. Seremos nós mesmos responsáveis por nos transformar obsoletos?

Em um mundo cada vez mais veloz e um futuro obscuro, interpretar o que realmente importa abre uma alternativa para a fantasia urbana com super foco na utopia emocional por puro escape. Se no início deste milênio, a pandemia era o pior dos mundos, o que nos espera daqui para frente têm sido a certeza de que saúde mental é o novo luxo. Guerras iminentes, crescimento do fascismo, narrativas falsas são quase um colapso da humanidade. Afinal, nunca antes na história da humanidade outra sociedade teve tanta informação, tecnologia e instantaneidade à seu favor. Mas parece que essa superexposição está fadigando a todos.

Neste parâmetro a volta do analógico, conversas olho a olho, o toque tangível ressurge como insurgência. A busca não é por novidades, mas por pertencimento, controle e o legítimo prazer em um mundo ansioso. Se no passado o luxo era medido pelo valor material de objetos, na atualidade a intelectualidade se traduz em raridade e virou a nova expressão de status. O offline por escolha é um convite a pensar, a se escutar com carinho. O novo luxo não é o acesso a dados, mas, sim, o poder que temos de interpretá-los e construir uma nova narrativa.

Labubu, morango do amor e tantas trend que invadiram as timelines nos últimos meses são os “escapes” a enxurrada de conteúdo que somos submetidos diariamente, nos levando à busca de algo que não demande tanta atenção, visto que, ao olharmos o noticiário temos a certeza quase iminente que o mundo está em colapso. O que vamos consumir daqui para frente passa pela capacidade que o conteúdo tenha de aliviar física e psicologicamente para um conforto como porto seguro à sobrevivência emocional.

O cansaço coletivo frente a dezena de milhares de influenciadores que se vangloriam da vida luxuosa, ostentação de marcas e vida sem problemas está com os dias contados. Prova disso, é que a PF começou a também entrar no circuito. Nada que é superficial se mantém intacto por muito tempo. A profundidade no saber, no conteúdo e educação sempre foram diferenciais em qualquer sociedade de qualquer época. O mise-en-scène está em dominar códigos, questionar padrões e argumentar com propriedade. Os valores, independente da era, não podem ser negociáveis.