Suray Soren: A primeira violinista da vida dos “Pequenos Instrumentistas”
Criadora do Suzuki Tropical, a célebre violinista tem na paixão pela música uma herança familiar, que ela multiplica a cada ano inserindo o violino na vida de inúmeras crianças cariocas.
ENTREVISTAS
1/21/20254 min read


A violinista Suray Soren é uma predestinada à música. De uma família de várias gerações de músicos, ela não fugiu à regra, no entanto, conseguiu por meio do seu talento fazer a diferença na área de atuação escolhida, sendo considerada uma das mais importantes violinistas no Brasil na atualidade. Dos estudos de música iniciado aos três anos de idade, ainda no piano até a iniciação do violino, instrumento que a acompanharia por toda vida, Suray transformou seu amor incodicional pela música, levando seu conhecimento e maestria a várias crianças, que também tem o sonho de serem músicos. Para tanto, ela criou o método “Suzuki Tropical”, incorporando a música brasileira a um dos métodos mais respeitados do mundo no ensino do violino.
Suray Soren é violinista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, também representou o Brasil na Iª Orquestra Mundial, sob a regência do renomado maestro Carlo Maria Giulini, em Estocolmo, Suécia. Neste ano, participou da montagem de Quebra-Nozes, no Municipal, após um hiato de 10 anos em que a obra de Tchaikovsky não era encenada no Rio. Em comemoração a época de Natal, a primorosa mestre em violino, apresentou-se com seus pequenos pupilos com a encenação musical: “Os pequenos Mozarts e Amadeus”, no Assyrio, levando sonhos e música de qualidade, mas principalmente, mostrando que investir no presente é a certeza da formação de bons cidadãos para o futuro. E esse é o poder da música.
“Estudar música não foi uma opção para mim. Sou de família de músicos, não apenas pelos meus pais, mas desde os meus bisavós que foram passando esse ofício a cada geração, todos na minha família tocavam instrumentos; uns profissionais, outros não. Da minha geração, eu sou violinista e meu irmão é cantor lírico na Alemanha. Eu comecei com piano e naquela época não existia um método para crianças, como hoje existe o Suzuki. Então iniciei meus estudos na Escola de Música da UFRJ e foi ali que descobri o violino. Meu avô tocava violino, então aquilo também foi uma referência, mas mesmo assim, mantive as aulas particulares de piano, e até hoje acompanho meus alunos no piano em apresentações” - relembrou a artista.
A idealização do Método Suzuki Tropical
Com 40 anos de ensino da música e instrumentação do violino são muitas crianças que tornaram-se músicos profissionais através dos ensinamentos de Suray Soren. Das épocas de quando ainda era aluna e, apenas aos 11 anos, começou a ter contato com o instrumento, ainda no método de aprendizado tradicional de música, Suray encantou-se pelo método Suzuki exatamente pela prática dessa filosofia que estimula o desenvolvimento do potencial humano ao trabalhar as habilidades cognitivas, motoras e sensoriais da criança, bem como o fortalecimento dos vínculos familiares e sua integração social.
Criado pelo professor Shinichi Suzuki, em 1931, o método foi concebido para desenvolver o potencial inato de todas as crianças. Conhecido como “método da língua mãe”, ou “método da educação do talento”, ou apenas “método Suzuki”, a metodologia reconhece que todas as crianças aprendem sua língua materna com amor e encorajamento dentro de seu ambiente familiar e social. No Brasil, a filosofia Suzuki, como Suray gosta de descrever, chegou pela região Sul do país, por meio da freira austríaca Maria Wilfried, na cidade de Londrina. Anos mais tarde a violinista Suray Soren interessou-se por esse estudo e foi até santa Catarina conhecer o método e tornou-se a pioneira desse ensino no Rio de Janeiro, no qual, já formou centenas de crianças com o método, inclusive adaptando para o Suzuki Tropical, nome dado por ela carinhosamente por ter inserido as músicas brasileiras no repertório de ensino dos futuros músicos.
“No método tradicional, primeiro você tem que estar alfabetizada para iniciar o instrumento. Na minha época não tinha como iniciar muito cedo. O suzuki chegou ao Brasil pelo sul do país por uma freira, que era amiga da mulher do Suzuki, eu não a conheci, mas tive contatos com professores que a conheceram. Aqui no Rio não tinha nada, então tive de ir atrás, depois fiz muitos cursos fora do Brasil, até na Irlanda levei alunos meus para tocar. Depois eu percebi que o método precisava de adaptações para trazer a nossa realidade. Daí que surgiu o “Método Suzuki Tropical”, que traz música brasileira no repertório. Sempre quando vamos tocar na Alemanha, 90% da apresentação é de música brasileira; Tom Jobim, muito chorinho. O violino é um instrumento que você pode utilizar vários estilos diferentes, não necessariamente apenas o clássico” - avaliou a mestre em violino.
Os três filhos de Suray são músicos e também passaram pelo método seguindo a carreira da mãe, inclusive são integrantes ao lado dela na Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Perguntada sobre o que gosta mais no ofício, ser uma musicista ou professora, Suray afirma que ambos têm a mesma importância para ela, que tem na música uma forma de sair da rotina, por sempre estar envolvida em diferentes projetos e nos mais diferentes repertórios.
A exímia musicista que no ano de 2010, idealizou o “Concertos dos 500”, no qual, violinistas de diferentes idades tocaram no Municipal, também estimula a carreira de seus pupilos seja ao levá-los para tocar no Festival do Vale do Café, em Vassouras, que ela participa há 20 anos, ou no grande concerto na Alemanha, que acontece agora no mês de janeiro. Desses encontros, Suray manifesta o desejo de cada criança seguir a carreira artística.
” Durante 20 anos tive uma escola de música, Casa de Cultura Rio, um tempo para cá eu dou apenas aulas particulares em casa. Eu moro em Laranjeiras, num apartamento antigo e aos sábados minha casa parece o Conservatório de Música. Temos ensaio da orquestra, o baby class, as aulas de teoria, aulas de violino. Várias coisas acontecem por lá. E ali é criado um ambiente musical para essa garotada, chamo de Família Suzuki. O Rio de Janeiro é uma cidade que é difícil manter alunos interessados em estudar música por ter muitas opções de lazer, mas venho cumprindo esse desafio com louvor. Tenho alunos de três anos de idade e esse ensino lúdico é a porta para uma vida musical” - finalizou a célebre violinista.