Uma vida escrita em cores e tintas

Pintora desde de criança, Rose Pontual, abre coleção intimista de releituras dos grandes pintores mundiais.

ENTREVISTAS

5/8/20244 min read

Rose Pontual é uma dama ao melhor estilo “Belle Époque” com uma ampla veia intelectual e artística, que reverbera na maneira própria de pensar e no estilo cosmopolita. Pintora desde a infância, carrega consigo um amor incondicional pela cultura, fato este, que fica evidente a quem tem contato com a artista. Adepta da pintura impressionista, movimento divisor de águas nas artes, no qual, os artistas não se prendem aos ensinamentos do realismo acadêmico, a cada obra que produz Rose busca um novo olhar para as telas que retrata expostas na casa dela, que mais parece um imenso ateliê, ou melhor, a extensão do talento dessa veterana amante das artes. No último trabalho, Rose, presenteou a Escola de Música da UFRJ com as pinturas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Iguaba Grande, e o mascote da universidade, a gata Harmonia, O presente é em comemoração aos 100 anos da Orquestra da Sinfônica que leva o nome da Instituição.

Apaixonada pela arte, cores e expressões, Rose retratou ao longo dos 70 anos de carreira, obras famosas de grandes pintores ao longo dos séculos, nas releituras expressivas com técnica muito bem elaborada que deu vida é possível apreciar o olhar transformador dela em obras como: “A moça do balanço, Pierre- Auguste Renoir; Vênus ao espelho, Velásquez; A moça do brinco de pérola, Johannes Vermeer entre muitos outros célebres artistas. “ Em 2014, passei por um trauma muito grande. Então resolvi me dedicar e especializar em pintura de uma maneira mais profissional, e a pintura salvou a minha vida. Um dia fui pintar no ateliê de um amigo meu e ele disse: - Rose porque não faz uma exposição?. Passei um ano pintando e iniciei um estudo dos grandes pintores com intuito de fazer a releitura do trabalho deles. Estudei artistas como Van Gogh, Monet, Renoir, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e muitos outros pintores de toda a Europa, que resultaram em 48 quadros"- relembra a artista.

Dessa imersão cultural no mundo da pintura, Rose passou por alguns ateliês, a fim de aprimorar as técnicas com composição de efeitos visuais para a fixação do instante, assim ela chegou na Universidade Federal de Belas Artes, onde relata que imaginando viver um novo tempo da sua pintura, foi frustrada, pois, a professora recomendou que ela não precisava estar lá porque já era uma pintora. Ela então iniciou um estudo profundo em história da arte que resultou em uma grande exposição, na Praia do Forte, em Cabo Frio, com sucesso de público e vendas. “ Foi um grande dia. Com ajuda do meu amigo e pintor Carlos Diangelo, em uma segunda-feira consegui colocar 300 amigos no espaço onde hoje é o Museu do Surf. A vernissage foi um sucesso, uma pessoa comprou 8 quadros. Eu havia contratado um pianista que na última hora declinou e, então, tive de improvisar, coloquei música francesa e no meio daquele monte de pinturas as pessoas dançavam Charles Aznavour, enquanto apreciavam as minhas pinturas” - relembrou emocionada

Rose tem um amor incondicional por Vincent Willem Van Gogh, pintor pós-impressionista holandês, considerado uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental, com quem diz ter aprendido muito sobre técnicas de pinturas, desde o colorido, expressão e mistura de cores. Assim, Rose fez releituras dos mais famosos quadros de Van Gogh, tais como: O Quarto em Arles (1888); Os Girassóis (1889); Noite Estrelada (1889), esse último, ela representou a pintura em quadros, em um tênis All Star e jaquetas jeans dando um ar super cool a uma das pinturas mais famosas do planeta. “Eu aprendi muito com Van Gogh, um artista muito sofrido. Todos esses artistas tanto da pintura, quanto na música tem essa veia dramática, esse sofrimento e, passei essa paixão por ele em tudo que pude. Pintei o famoso quadro “Noite Estrelada", até na porta do banheiro da minha casa. Tudo aqui na minha casa é pintado. Tem a mão do artista e isso foi acontecendo ao longo da minha vida, uma coisa que não percebi. Por exemplo, a mesa que estamos conversando ela foi tirada do lixo de uma amiga, ela é de granito com pé de ferro toda em mosaico com resina" - Gabou-se Rose.

A menina artista

As primeiras aquarelas, Rose ganhou do pai aos cinco anos de idade. Empolgada com o presente inusitado, ela descobriu por conta própria como utilizar o pigmento já iniciando a primeira “arte”, pintando um barquinho na parede do corredor da casa dos pais dela, fato que chamou atenção do patriarca da família, que sentenciou: “A galega tem talento”.

-“Lembro que ganhei do meu pai uma caixinha de aquarela, claro que eu não sabia que era aquarela, mas descobri sozinha que tinha que usar água, então eu peguei aquela caixinha de aquarela e todos os dias eu pintava a parede do corredor da minha casa do lado de fora e num desses dias eu estava pintando e ele elogiou. 70 anos depois eu lembro das palavras dele” - relembrou saudosa.

Alem de uma notória artista, Rose acumula várias profissões, formada em pedagogia, educação física e direito exerceu todos os oficios no qual se debruçou a muito estudar, no entanto, foi no direito que fez carreira e aposentou-se como "oficiala de justiça", termo que ela gosta de pronunciar, não obstante, a pintura sempre a acompanhou a cada momento da vida e a música também ganhou uma página na vida de dela, já que é violinista. “ Lembro que quando casei com o jornalista da CBF, Antonio Vivaldo Azevedo, estava grávida do meu primeiro filho e comecei a pintar o enxoval dele, e fiz uns quadrinhos de palhaços para colocar no quarto. Dali comecei a pintar para amigas, sempre como algo intuitivo".- disse.

Rose relembra ainda que sua paixão pela pintura sempre esteve por representar as paisagens, marinas e casarios, pasmem, ela não se considera uma boa desenhista. Sempre que viaja, Rose procura estar em contato com a parte artística do local que visita, dessa forma, cria novas memórias. “Quando estou em um lugar novo me encanto pela pintura local, as cores, as figuras para mim é um mundo desconhecido que eu quero mergulhar ali” . Aos 75 anos e com uma vitalidade incrível, ela declara-se uma eterna estudante. Ao ser questionada sobre como gostaria que a arte dela fosse interpretada daqui a 100 anos ela é enfática: “100 anos eu acho muito tempo, porque a arte, a cultura estão em eterna evolução, talvez a minha arte se perca no tempo, mas se algum dos meus trabalhos sobreviver gostaria que pensassem: Essa pessoa fazia releituras. Quem terá sido ela?" finalizou com uma contagiante gargalhada.